Thursday, February 16, 2017

Uma flor no entulho


Minhas queridas filhas,
Conto-vos uma história que começa agora. 54 anos depois de eu ter nascido.
Como falar por escrito daquilo que nem sussurrado queremos ouvir? Haverá como dize-lo sem parecer tão pesado?  Pois bem:
No dia 13 de dezembro de 2016 recebi o telefonema com o resultado da biópsia assistida por vácuo para despiste de cancro da mama. A prescrição, baseada na mamografia e na eco-mamária de rotina, dava-me como BI Rads 4A, com baixa suspeita de malignidade, mas afinal havia (uma alcateia de) lobos mascarados de cordeiros no volume das microcalcificações. É umTriplo Negativo na mama direita com metástases nos ganglios.
No espaço de dias misturei e sobrepus emoções. E vocês sabem como a mãe é de emoção lenta. Imaginem o quanto andei perdida. O meu corpo e a minha alma separaram-se, ofendidos de morte.
Tive repulsa da minha própria mama. Achei que ia superar isto na maior. Achei que ia morrer no dia seguinte. Achei que não merecia. Achei que merecia. Achei que tinha um azar do caraças. Achei que no fundo tinha imensa sorte!
Achei que vos ia causar desgosto e sobre isso ainda não me recompus. Desculpem não vos ter dito logo logo mas espero que compreendam agora que tive de me focar antes de partilhar.
Esta doença é insidiosa. Silenciosa. Não respeita os meus comportamentos e está a dar cabo do meu corpo. Eu não me reconheço nesta doença. Se alguém vos disser que enfrenta um veredicto destes exclusivamente com força e boas energias, está sobretudo a mentir a si próprio. É preciso ter muito respeito por esta doença. Não a menosprezem.
Há um oitavo passageiro a crescer dentro de mim (lembrem-se de quando vos “obriguei” a ver filmes de bons realizadores) e eu pouco mais posso fazer senão dar o corpo aos tratamentos. Quando à alma, abri os braços e juro que não estava à espera de tanta boa energia, vinda de tanta gente, amigos e conhecidos que me tem tornado tão mais suave este caminhar. Quanto a Deus, é pai. Não me faltará.
A vossa existência, Mariana e Madalena, é a prova de que tudo o que me acontecer, valeu a pena.  Vamos lá fazer esta caminhada! É preciso procurar bem, mas há sempre uma flor no meio do entulho. Obrigada António, obrigada minha irmã Mary por olharem por mim pelo canto do olho, não vá eu precisar de alguma coisa ;)
Irei fazendo a cronologia dos factos, para memória futura e, sobretudo, para ficar com a ideia que controlo esta cena.


Thursday, February 09, 2017


Auto-Retrato escrito

Estas letras

desenham a minha cara plácida

os olhos

pequenos, abertos abertos

poem-se no infinito

o nariz,

por onde se sente o ar

a boca num sorriso longo

aberta em

eterna admiração da vida

Guardem-me assim

Wednesday, January 20, 2016

Nao te deixes atrair. Vai dar asneira

Circula na net um calendario que estimula a nossa costelinha de poupança, para ver se é desta que nos disciplinamos e tal. Ora bem, seguindo aquela tabela, ha um mes em que temos de pôr de parte 200 euros. Querem maior balde de água fria? Lá se vão as boas intenções de ano novo... Quem pode abdicar de 200 euros, seja lá em que mês for, não tem mesmo necessidade nenhuma de fazer um pé de meia para chegar a 1300 euros ao fim de um ano. Só se for por gracinha, tá a ver?
Mas a ideia é boa, nao a percamos. Vamos lá então procurar fazer uma poupança este ano, mas com cabeça-tronco-e membros. Por mim, vou distribuir as quantias e tentar que as semanas de quantia "pesada" surjam uma em cada mês, por exemplo.


FICA UM PLANO MAIS OU MENOS ASSIM:


Tuesday, January 12, 2016

O meu humilde tributo a David Bowie















A D. Elisa, que foi a nossa criada quando viemos para Lisboa em 1976,  fez-se substituir pela sua filha Maria, passados uns anos, e ficámos todos a ganhar: nós,  porque a Maria era próxima da nossa idade e tínhamos mais uma companheira, a D. Elisa porque estava cansada do trabalho (imagino que sim) e a Maria porque arranjou emprego sem ter que se ralar com nada.

O tempo passou por todos e, nos anos 80, a Maria emigrou para a Suíça enquanto nós, filhos,  íamos saindo da casa paterna…
Naquele dia 14 de Setembro de 1990,  o telefone não parava de tocar em casa dos meus pais, pois a Maria queria muito avisar-nos que havia convites à espera dos meninos na bilheteira do Estádio de Alvalade, para ver o David – assim se explicou a Maria à minha mãe quando finalmente falaram..
Recebi esta prenda dias mais tarde;  e eu um bocadinho incrédula, confesso.
Não que não tenha ido ao concerto. Fui e levei a linda Mariana comigo, na barriga de 5 meses J mas não estava nada a perceber como é que raio a Maria tinha convites para o David Bowie!!!
No Natal desse ano a Maria veio à terra  e então contou-nos que há uns tempos tinha respondido a um anúncio de serviço doméstico e tinha sido contratada por um senhor, que é cantor e que quando soube que ele vinha a Lisboa lhe tinha dito que os meninos dela haviam de gostar de ir ao concerto e voilá - daí o telefonema com os convites!
A Maria contou muitas coisas do seu patrão, que guardo com graça e contou também que era ela que engomava o casaco branco do videoclip Dancing in the Street. Juro.
Eu, que já gostava da Maria,  passei a admirá-la.

De modo que,  estive, estou e estarei a uma pessoa do Major TomJ


Monday, June 15, 2015


Um grande círculo cor-de-laranja assinalava, no planner da cozinha,

Fomos cedo para ter tempo para a feira, muito embora já tudo me soubesse a preparatória:


Espaço Leya – identificado
Palco onde iam fazer a entrega do prémio – identificado
Sitio para sentar – mentalmente marcado

Comprámos livros e pedimos autógrafos e finalmente chegou a hora de me sentar na mesa mesmo de caras para o palco onde ia ser entregue o Prémio ao autor. Põe as costas direitas Eduarda, e Deus queira que não apareça nenhuma velhinha a pedir-me o lugar porque não vou poder dar…
Mas o Universo, ou o António, vá, dão-me quase sempre a volta e eis que sou chamada, num ACENO!!!! para ir ali ao lado do pavilhão da Leya!!!!!!!
Foi então desta maneira, num banco de jardim, que estive frente-a-frente com quem melhor escreve em português, actualmente.  
Na pena, vê-se-lhe a genialidade (e dá mesmo vontade de fazer comparações no absurdo da comparação de autores): neste seu primeiro livro, o herói é misógino e as mulheres... essas hipócritas. Para além disto, é também bonito, educado e interessado.
Dei-lhe um abraço e uma opinião: que continuasse. Imagino que seja isto que se possa dar a um escritor…
Depois não houve mais nada durante um bom par de horas. Nem compras, nem vontade de comer, nem necessidade de me abrigar da chuva. Só um sorriso apalermado na cara.

Não tive coragem tempo para lhe perguntar sobre o novo acordo ortográfico mas tenho a certeza que a resposta seria: não, obrigado.

Thursday, October 02, 2014




Nas férias foi assim. O meu livro de cabeceira foi comigo e numa bela manhã entro no Central (há sempre um Café Central que espera por si) para encontrar um painel do José Pádua que aqui deixo. Stay tuned for more cartoons.

Wednesday, October 01, 2014

EU CORRUPTELO, TU DÁS PONTAPÉS NA GRAMÁTICA, ELE NÃO SABE FALAR PORTUGUÊS

Vamos dar inicio a uma longa e inesgotável lista de corruptelas, que nos fazem pensar. Uma língua viva  evolui e os neologismos fazem parte desse processo, do mesmo modo que as práticas reiteradas de má pronuncia ou adaptação  - por vezes distantes da génese da própria palavra - também contribuem para a sua evolução. Há corruptelas e corruptelas e daí o seu fascínio.  Estas notas servirão pelo interesse que suscitam, a quem aprecia a língua  e os seus matizes. Também podemos aproveitar para rir...

VOX POPULI           CORRESPONDÊNCIA CORRECTA

Catrapázios                 Cartapácios
Catrefa                        Caterva
Estreler                       Tresler
Atazanar                     Atezinar
Enviuzado                  Enviezado
Alpercatas                  Alpargatas